sábado, 29 de agosto de 2009

Esclarecimento

" Na industria, o individuo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal está fora de questão. Da improvisação padronizada do jazz até os tipos originais do cinema, que tem de deixar a franja cair sobre os olhos para serem reconhecidos como tais, o que domina é a pseudoindividualidade. o individuo reduz-se á capacidade do universal de marcar tão integralmente o contingente que ele possa ser conservado como o mesmo.
Assim, por exemplo, o ar de obstinada reserva ou a postura elegante do individuo exibido numa cena determinada é algo que se produz em série exatamente como as fechaduras Yale, que só por frações de milímetros se distinguem umas das outras. As particularidade de eu são mercadoria monopolizadas e socialmente condicionadas que se fazem passar por algo natural. Elas se reduzem ao bigode, ao sotaque francês, á voz grave de mulher de vidas livre[..]: são como impressões digitais em células de identidade que, não fosse por elas, seriam rigorosamente iguais e nas quais a vida e a fisionomia de todos os indivíduos - da estrelas do cinema ao encarcerado - se transforma, em face ao poderio do universal, que é possível reintegrá-los totalmente na universalidade. A cultura de massa revela assim seu caráter fictício que a forma do individuo sempre exibiu na era da burguesia, e seu único erro é vangloriar-se por essa duvidosa harmonia do universal e do particular."

ADORNO, Theodor, HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento; fragmento filosóficos. Tradução Guido Antonio de Almeida. Ro de Janeiro: Jorge Zahar.1985. p. 144-5

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